por Paulo Madsen PY2FWR, PY2NR (um dos fundadores do CWSP)

Toni, PY2FWT (SK)

A formação do CWSP esteve sempre ao redor de PY2FWT, o nosso querido Tonico. Muito embora já tivessem sido articuladas algumas louváveis (mas infrutíferas) tentativas de se organizar um clube de operadores de telegrafia em São Paulo, as circunstâncias em que o atual grupo se formou, mostravam-se desde o seu começo com características próprias, firmes e irreversíveis. É justamente sobre estas circunstâncias que fazemos os comentários a seguir tentando ajudar a compor um quadro bastante real, sobre a “História do CWSP”.

Nosso primeiro QSO com o Tonico foi em fonia, em princípios de 1973, quando ele operava um XMTR de construção caseira (1 6L6 por outra), construído pelo José Carlos PY2FSF. Nossos indicativos de chamada eram quase “vizinhos” e logo nos propusemos a visitá-lo para um papo de “corpo presente”. Conhecemos, além do operador, um equipamento que transmitia em AM e em “circuito fechado” só para a Vila Monumento e adjacências (e só adjacências bem adjacentes!…) Notamos também algo muito mais importante que os poucos Watts transmitidos: um brilho nos olhos do operador que revelava uma incontida alegria, de quem descobre algo inteiramente novo, fascinante e que iria dar um novo alento à sua vida, uma vida cujos horizontes de até então, não iam muito além do alcance das rodas de sua cadeira. A cada contato que fazia, novas amizades surgiam e já ia se tornando rotina, principalmente nos fins de semana, quando uma “rodada” se formava ao seu redor, em seu próprio shack.

O curso de eletrônica por correspondência, o gosto pelo rádio, e o indicativo de chamada conquistado, tinham agora um dividendo inesperado: – um grupo de colegas, permanentemente ao seu lado, faziam até com que, às vezes, se esquecesse da dor e da sua condição física. Neste ponto, sua vida já não estava mais confinada entre as paredes do pequeno quarto, onde estivera por mais de treze anos. Ao seu lado estava permanentemente o Muniz, PY2OE. Os primeiros equipamentos para CW, o primeiro manipulador eletrônico e os mini-QRP, foram acrescidos pelo General ao dia-a-dia do “baixinho”. (Isto sem falar nas primeiras surras no jogo de xadrez, impostas ao PY2OE).

Apesar de toda a mudança que o rádio trouxe em sua vida, os problemas advindos da artrite, que lhe roubaram quase toda mobilidade, ainda se agigantavam nos momentos de solidão, fazendo com que buscasse socorro com os amigos que já conquistara. O socorro que pedia nada mais era que palavras de conforto. Numa das vezes, recebi certa noite um telefonema de Dona Olga, mãe do Tonico, dizendo que este pedia minha presença urgente em seu QTH. Imediatamente lá compareci e escutei dele um relato impressionantemente triste de uma série de problemas ligados a sua condição física, que o magoavam e que sobretudo não lhe permitiam antever nenhuma perspectiva de vida feliz. Todo este pessimismo, mesclado de um realismo pungente, vinha acompanhado de uma pergunta inquietante: – “O que eu posso fazer da minha vida? …” Minha resposta, logicamente teria que ser piedosa, mas sem fugir da realidade que o quadro se apresentava. Meio engasgado respondi:

– “Meu caro amigo. A melhor maneira de nos afastarmos de um problema é tentarmos substitui-lo por um outro, cuja solução esteja mais ao nosso alcance.”

Apresentei logo em seguida algumas ideias que serviriam para ajudar a contornar a situação: “Você poderá, por exemplo, dar aulas de telegrafia, montar pequenos equipamentos como manipuladores eletrônicos, preparar candidatos a exames de radio amador, etc.”

Neste mesmo encontro saiu a ideia de organizarmos um pequeno clube de operadores de CW, cuja sede seria em sua própria casa. Como eu já havia participado, junto com o Leivas, PY1CBW da fundação do PPC

PY2FWT em sua estação.

do Rio de Janeiro (quando ele ainda era PY1BAK), já tinha alguma vivência em assunto semelhante e a nossa tarefa seria mais fácil. O Tonico, já a partir deste instante colocou o CW acima dos seus problemas íntimos e já começou a ter várias ideias de como seria o nosso “clube de telegrafia”.

O nome proposto inicialmente seria SPCW. Depois, para não dar “batimento” com nosso querido GPCW, resolvemos mudar para CWSP. Nesta altura já estávamos contando com o respaldo moral, técnico e vivencial do sempre amigo PY2OE. Também o José Carlos PY2FSF estava continuamente acompanhando as ideias da nossa formação como grupo de CW.

Já estávamos aproximadamente em julho de 1976. Os estatutos já estavam rascunhados e para “adiantar a escrita”, bolamos um modesto diploma que pudesse ser impresso em silk-scren. Os primeiros diplomas foram impressos no próprio shack do Tonico. Esses diplomas seriam necessários para a primeira “grande reunião” que iríamos convocar, visando a instalação oficial do grupo. Com o diploma já impresso e um estatuto pronto, não sobraria muita coisa a discutir… Naquela época a sala de aulas do Tonico era bem menor que a atual, medindo aproximadamente 3 X 3 metros. Como havíamos convocado cerca de 15 colegas para a reunião, a mesma teve que ser realizada ao ar livre.

A partir daí, aumentou consideravelmente a “produção” de bolinhos e cafezinhos com que Dona Olga sempre carinhosamente nos recebeu em todas as reuniões do CWSP.

Nesta primeira reunião compareceram vários colegas que simplesmente por sua presença já representavam um prenúncio de uma vida longa e progresso constante ao nosso clube. Não poderia ser de outra forma. Ali estavam presentes: PY1DG Salema, PY2GUN Campos, PY2EIL Marcelino, PY2GPA Verago, PY2DHP Elza, PY2DCP Wilson, PY2OE Muniz, PY2FSF J, Carlos, PY2BMP J. Augusto, PY2FFW Roberto, PY4BZC/2 Oswaldo, PY2RT Garitano, PY2FWT Toni, PY2FWR Madsen.

Desta reunião já resultaram aprovados: A constituição oficial do grupo, a sua denominação atual, o modelo de estatuto apresentado e o diploma já impresso. Decidiu-se também pelo lançamento oficial do diploma o que aconteceu num jantar de aniversário do GPCW no dia 15/10/1976. A partir desta data passaram a ter validade os contatos para o diploma CWSP. Logo em seguida fizemos a assinatura da Caixa Postal No15.098, que esteve ativa por muitos anos.

Nessas alturas, apoiado e incentivado por vários colegas, o Tonico estava iniciando, como professor, as primeiras aulas de CW. Seu primeiro aluno foi um dos beneméritos do CWSP, o nosso querido Orlando, PY2HAU.

Os primeiros impressos (envelopes e papéis timbrados) foram doados pelo Orlando, bem como o telefone 273-9572 que funcionava em “nossa” sede.

Lançamento do livro “Curso para Radioamadores” (1977). Da esq. para a dir: Tadashi Ito (Lojas do Livro Eletrônico), Nauá Cardarelli (Revista Antenna), PY2OE – Muniz, PY2FWR – Madsen, PY2DHP – Elza, PY2DCP – Wilson, PY1JN – Niess (Pica Pau Carioca) e PY2CJW – Maneco (GPCW). Foto: AHRB

Nesta mesma época saia do prelo a 1º edição da grande obra “Curso para Radioamadores”, em dois volumes, de autoria de PY2DHP Elza, PY2DCP Wilson e do inesquecível PY2DJE, Romeu Toddai. A doação feita pelos autores, de um terço dos direitos autorais em favor do nosso grupo, foi decisiva para a “arrancada” do CWSP.

O Eduardo, PY2WD (na época PY2GZY) foi o idealizador e responsável pela confecção das plaquetas de circuito impresso para a montagem do manipulador eletrônico ACCU-Keyer. Esta plaqueta, cuja venda ultrapassou a 700 unidades, além de um substancial apoio aos cofres do grupo, serviu como grande divulgadora do nome do CWSP, bem como contribuiu efetivamente para que muitos colegas se equipassem com algo realmente moderno em termos de manipulação automática.

Toda a organização de secretaria que durante algum tempo esteve a cargo do próprio Tonico, passou posteriormente para o Campos, PY2GUN. Esta foi uma colaboração de “peso” que o grupo recebeu. A organização dos livros, da correspondência e da expedição de diplomas recebeu muito de sua organização atual das mãos daquele “gordo amigo”.

A evolução do CWSP como clube associativo de operadores de telegrafia está intrinsecamente ligada ao magnetismo pessoal e a figura incrivelmente humana do PY2FWT. A sua qualidade de radiotelegrafista, sem dúvida nenhuma um dos melhores da Rede Brasileira de Radioamadores, serviu de modelo para a evolução dos demais membros do grupo. O otimismo com que encarava as vicissitudes da vida, fez com que todos permanecessem ao seu redor, obtendo exemplo para viverem os seus próprios problemas.

A amizade sincera e despretensiosa que a todos irmanou, fez do Tonico um exemplo do verdadeiro amigo. Por estas e outras razões, podemos sem nenhuma dúvida afirmar que o “Grupo de CW de São Paulo – CWSP”, teve uma origem simples mas ao mesmo tempo grandiosa, seguindo por um caminho igual, porque teve suas bases fundamentadas no verdadeiro amor que une os homens de bem.